Linha de vida

Confiança é uma palavra cuja origem remonta ao latim (confidere) e está relacionada à palavra fé. A etimologia não é uma fonte 100% confiável do significado das palavras, mas pode esclarecer muitos conceitos. Ao confiarmos em alguém ou em algo, estamos fazendo uma entrega. Entregamos segredos, sonhos, tempo, dinheiro e, até mesmo, nós mesmos a uma pessoa, a uma ideia ou uma causa.

Há aqueles que confiam em demasia nas pessoas, confidenciam-lhes o que têm de mais íntimo, se arrependem das consequências e, depois, repetem os mesmos erros. Também há quem, já calejado pelas decepções do passado, se fecha como uma ostra e não vive nenhum relacionamento senão na superficialidade.

É o que acontece em Ressurreição, de Machado de Assis. Félix é um sujeito que não sabe confiar nas pessoas e, consequentemente, traz ruína para sua vida. Lívia, por outro lado, é muito crédula e sofre por não enxergar segundas intenções.

Como em tantas outras questões da vida, precisa-se encontrar um equilíbrio. A pessoa que deseja ter relacionamentos significativos e saúde emocional deve entender que a vida precisa ser um livro aberto. Porém, com uma condição: às pessoas certas.

Com aqueles amigos de longa data, cuja amizade já foi acrisolada pelas dificuldades e em quem se achou um áureo companheirismo, podemos compartilhar a vida e, assim, nos libertar de cargas e problemas que só trariam morte se fossem mantidos dentro do peito. Ainda assim, há a possibilidade de desapontamento e de expectativas frustradas. Nada é mais doloroso do que ter a confiança traída. Nos arriscamos ao compartilhar a nossa vida. E, ao nos jogarmos da torre de marfim em que vivemos, precisamos de uma "linha de vida" que nos segure e impeça de cair.

Olhando para nossos relacionamentos, nós precisamos de uma garantia como essa para viver de forma saudável. Necessitamos de um relacionamento tão sólido e confiável que, mesmo que todos os demais falhem, poderemos ser puxados de volta.

O único que jamais muda (Malaquias 3.6), que é plenamente confiável (2 Timóteo 2.13) e que é 100% verdadeiro (João 14.6) é Aquele que nos criou.

Na amizade com Deus, podemos ter uma vida emocional saudável, sem receios de se arriscar em novos relacionamentos e, sabendo que, se todo o resto der errado, Ele nos tem sempre consigo. Como disse Asaph Borba, "Seus braços foram estendidos na cruz para nos receber".

Texto: Bruno Chaves
Engenheiro civil e líder da Mocidade para Cristo no Brasil (MPC) em Santa Maria